A Origem das Células

A origem das células é um dos temas mais intrigantes da biologia. Entender como as primeiras formas de vida surgiram no planeta é essencial para compreender a evolução biológica. 

As Condições Primordiais da Terra

Há cerca de 4,6 bilhões de anos, quando a Terra se formou, o ambiente era extremamente diferente do atual. Não havia atmosfera rica em oxigênio, nem água em estado líquido abundante. O planeta estava em constante transformação, com intensa atividade vulcânica, temperaturas elevadas e frequentes bombardeios de meteoros.

A atmosfera primitiva da Terra era composta principalmente por gases como metano (CH₄), amônia (NH₃), vapor d’água (H₂O) e gás carbônico (CO₂), mas não havia oxigênio molecular livre (O₂) como temos hoje. A radiação solar intensa e as descargas elétricas de tempestades frequentes foram fundamentais para desencadear reações químicas que, segundo teorias, possibilitaram a formação das primeiras moléculas orgânicas.

A Sopa Primordial

A teoria da “sopa primordial”, também chamada de “sopa prebiótica”, foi proposta de forma independente pelos cientistas Alexander Oparin e John Haldane na década de 1920. Segundo essa hipótese, os gases da atmosfera primitiva da Terra, combinados com a energia fornecida por relâmpagos e radiação ultravioleta, teriam permitido a formação de moléculas orgânicas simples, como aminoácidos e açúcares, em ambientes aquosos (oceanos primitivos).

Essas moléculas orgânicas simples teriam se acumulado nos oceanos, criando uma espécie de “caldo” rico em compostos químicos, onde gradualmente moléculas mais complexas e interações químicas deram origem às primeiras formas de vida.

O Experimento de Miller-Urey

Em 1953, Stanley Miller e Harold Urey realizaram um experimento histórico que forneceu suporte experimental à hipótese da sopa primordial. Eles criaram um aparelho que simulava as condições da Terra primitiva, colocando em um recipiente gases como metano, amônia, hidrogênio e vapor d’água. Em seguida, aplicaram descargas elétricas para simular raios.

Após uma semana, eles descobriram que haviam se formado vários aminoácidos, que são os blocos construtores das proteínas, moléculas essenciais para a vida. Este experimento demonstrou que moléculas orgânicas complexas poderiam surgir a partir de compostos simples em condições semelhantes às da Terra primitiva.

Hipóteses Adicionais para a Síntese de Moléculas Orgânicas

Além da sopa primordial, outras teorias foram propostas para explicar a origem das moléculas orgânicas na Terra. Uma delas é a hipótese das fontes hidrotermais, que sugere que a vida pode ter se originado em ambientes profundos dos oceanos, próximos a fontes hidrotermais submarinas. Essas fontes liberam uma mistura de minerais e gases em altas temperaturas, e poderiam ter criado condições favoráveis para o surgimento de vida.

Outra possibilidade é a panspermia, uma teoria que sugere que a vida ou seus blocos fundamentais podem ter vindo do espaço, transportados por meteoritos ou cometas que colidiram com a Terra.

O Surgimento de Moléculas Autorreplicantes

Uma vez que moléculas orgânicas complexas, como aminoácidos e nucleotídeos, foram formadas, o próximo passo crucial foi o surgimento de moléculas que pudessem se autorreplicar. A capacidade de autorreplicação é fundamental para a vida, pois permite a passagem de informações genéticas de uma geração para outra.

A Hipótese do Mundo de RNA

A hipótese do “mundo de RNA” é uma das teorias mais aceitas para explicar a transição de moléculas orgânicas simples para sistemas vivos. De acordo com essa hipótese, antes do surgimento do DNA e das proteínas, o RNA desempenhou um papel duplo: ele armazenava informações genéticas e catalisava reações químicas, atuando como uma enzima (ribozima).

     

      • RNA como catalisador: Hoje, conhecemos ribozimas, moléculas de RNA que podem catalisar reações químicas. Isso apoia a ideia de que o RNA poderia ter desempenhado o papel que as proteínas exercem nas células modernas, facilitando reações cruciais para a vida.

      • Armazenamento genético: O RNA também pode armazenar informações genéticas, como o DNA faz atualmente. No mundo de RNA, essas moléculas poderiam ter se replicado, permitindo o surgimento de sistemas evolutivos.

    Com o tempo, o RNA teria evoluído para sistemas mais complexos, incluindo o DNA, que eventualmente substituiu o RNA como principal material genético, devido à sua maior estabilidade.

    Formação de Protobiontes

    Outro passo importante na origem das células foi a formação de estruturas delimitadas, que separavam o meio interno do externo. Essas estruturas primitivas são chamadas de protobiontes.

    Coacervados e Micelas

    Oparin propôs que as primeiras estruturas celulares podem ter sido coacervados, que são gotículas formadas pela agregação de macromoléculas em solução. Essas gotículas podiam criar um ambiente interno distinto, precursor das membranas celulares.

    Outro conceito importante é o das micelas e lipossomas, que são estruturas esféricas formadas por lipídios em solução aquosa. Elas podem encapsular substâncias e criar uma barreira semipermeável, semelhante às membranas celulares modernas.

    O Surgimento das Primeiras Células Procariontes

    As primeiras formas de vida celular eram provavelmente procariontes, organismos unicelulares simples, sem núcleo definido e sem organelas membranosas. Essas células procariontes, que incluem bactérias e arqueobactérias, foram os primeiros seres vivos a habitar o planeta.

    Procariontes Ancestrais

       

        • Arqueobactérias: Alguns dos organismos mais antigos conhecidos, adaptados a ambientes extremos, como fontes termais e mares salgados, são exemplos de como as primeiras formas de vida podiam sobreviver em condições extremas.

        • Fotossíntese Anoxigênica: Antes do oxigênio ser abundante na Terra, algumas bactérias desenvolveram uma forma de fotossíntese que não liberava oxigênio.

      A Revolução do Oxigênio e o Surgimento das Células Eucariontes

      A fotossíntese oxigênica das cianobactérias, que surgiu cerca de 2,5 bilhões de anos atrás, foi responsável por aumentar os níveis de oxigênio na atmosfera terrestre. Esse evento, conhecido como Grande Evento de Oxigenação, permitiu a evolução de formas de vida mais complexas.

      Teoria Endossimbiótica

      A teoria endossimbiótica, proposta por Lynn Margulis, explica o surgimento das células eucariontes, que são mais complexas e compartimentalizadas. A hipótese sugere que as mitocôndrias e cloroplastos das células eucariontes se originaram de bactérias que foram englobadas por outras células procariontes e estabeleceram uma relação simbiótica.

         

          • Mitocôndrias: Originadas de bactérias aeróbicas que forneciam energia em troca de proteção.

          • Cloroplastos: Derivados de cianobactérias, permitindo a fotossíntese nas células vegetais.

        Conclusão

        A origem das células é uma área de estudo fascinante e cheia de desafios. Desde as condições primitivas da Terra até o surgimento de organismos unicelulares complexos, a evolução celular é a chave para entender a diversidade da vida. Com o avanço da ciência, continuamos a desvendar esse mistério, proporcionando novos insights sobre a biologia celular e a história da vida.

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        Sobre a autora

        Taynara Melo

        Como bióloga e professora, minha paixão é a educação e a difusão do conhecimento. Meu objetivo é democratizar o acesso à educação de qualidade e trazer conteúdo de biologia de alto nível para todos.

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